segunda-feira, 11 de maio de 2009

Varrendo o Tapiri

Seis e trinta e cinco da manhã. Setembro do ano 2000. O jovem contava nos dedos os dias faltantes para sua baixa. Para ele, assim como para muitos de seus camaradas, este seria o dia em que receberiam de volta a liberdade. Seria, em sua mente, um dia festivo, pois não precisaria mais passar o dia limpando o quartel, tampouco ter que respeitar as pessoas pelo título que possuem (esse mesmo jovem estranhou quando ouviu algumas frases comuns do cotidiano sendo colocadas com o sentido inverso para uso militar, como por exemplo: “Tens que me respeitar pelo posto que tenho, e não pela pessoa que sou”, ou “Aqui todo mundo é culpado até que se prove o contrário”, dentre outras), não precisaria mais varrer a área externa do quartel, que todo santo dia amanhecia coberta de pequeninas folhas que caíam das árvores arredores. Mal sabia ele que dessa época sentiria saudades, e que os até então malfeitores seriam posteriormente agradecidos e tidos como “formadores de caráter” por ele próprio.
Depois de cumprir o plantão de sentinela das duas às quatro da manhã, o pior horário que existe, tanto por ter que interromper o sono no meio da madrugada quanto por ser neste exato período de tempo que os fenômenos metafísicos do quartel costumavam acontecer, o jovem de dezenove anos de idade varria impacientemente o tapiri – uma área externa, coberta, mas sem paredes, de uns oitenta metros quadrados. Cansado e nervoso, o jovem começou a respirar profundamente, e percebeu que varrer poderia ser uma terapia. Imaginou-se varrendo sem a obrigação de varrer, e chegou à conclusão de que este seria um excelente exercício para manter-se conectado com o AGORA. Por um breve tempo, o jovem sentiu um grande prazer em varrer, o qual logo se esvaiu quando se lembrou que estava dentro do quartel, varrendo as malditas folhinhas que intempestivamente insistiam em cair o ano todo. Tomado novamente pela fúria contida, o jovem rapaz balbuciou palavras inaudíveis, mas que carregavam em si o significado de que “era impossível fazer alguma coisa prazerosa naquele lugar”.

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