Nove e meia da manhã. Março de 2009. O ex-soldado número vinte e quatro do contingente de 2000, já homem, varria com certa pressa a sala da casa em que morava, em uma pequena e pacata cidade do sul da Alemanha, pois, após a faxina, ainda tinha que se entregar a severas horas de estudo.
Ao mesmo tempo que varria, o homem se perguntava como é possível uma casa juntar tanta sujeira em tão pouco tempo, sendo que as portas e janelas permaneciam praticamente o dia todo fechadas, devido ao rigoroso inverno alemão, e a cultura local primava pelo despir dos sapatos ao se adentrar em qualquer casa. Lembrou-se então de ter lido, não sabia onde, que grande parte da sujeira da casa deriva do próprio ser humano, que renova sua pele em tempo mínimo. Isso o fez pensar nas semelhanças que temos com as cobras, o que acabou levando-o a lembrar das teorias sobre reptilianos, e sua mente perdeu alguns segundos formulando idéias a respeito de um criacionismo oculto pelo criacionismo convencional. Tais idéias deixam de beirar o absurdo quando se analisa a dita “história oculta” em paralelo com um estudo analítico do antigo testamento da bíblia. Essas idéias, certa feita, haviam-no convencido de que eram a ponte faltante entre o criacionismo e o evolucionismo.
Voltando de sua abstração, o homem viu-se novamente apressado em terminar logo a faxina da casa, pois estava preocupado com os estudos. Ao lembrar-se da urgência em terminar a limpeza e da carga de estudos que o esperava, acabou entregando-se à ira contida e, respirando profundamente, lembrou-se de quando varria o tapiri. Ele se recordava nitidamente da idéia que lhe ilustrou quão boa seria a experiência de varrer sem ser obrigado a tal. O homem, então, mapeou rapidamente sua memória em busca de uma única vez que houvesse feito uma faxina prazerosa no decorrer desses nove anos passados. Para seu espanto, não se recordou de ter varrido como havia proposto uma vez sequer.
O que o impedia? Por que não poderia fazê-lo naquele instante? Foi só então que ele percebeu que sempre teria o que fazer, mas que isso não poderia de forma alguma tolher a magia do presente. Foi nesse momento que a sensação de destino lhe invadiu a alma, apresentando-lhe a clara percepção do momento presente.
De olhos fechados, sentindo uma imensidão dentro de si, suspirou lentamente, deixando brotar em seus lábios um leve sorriso, delator da paz que estava sentindo. Abriu os olhos e, com uma vacuidade mental jamais antes percebida, voltou a varrer sua casa.
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